Já lá vão cerca de vinte anos. Em toda a vila vareira ouvia-se o toque das Ave-Marias logo de manhãzinha, ao meio-dia e ao pôr do Sol. Era uma tradição que para as gentes do campo tinha um significado muito especial, já que aqueles toques representavam qualquer coisa de belo e útil, especialmente o do pôr do Sol, quando os seus corpos sadios mas cansados se entregavam ao descanso e ao regresso aos lares, rezando silenciosamente as três Avé-Marias.
Sino da Igreja Matriz de Ovar repicando FOTO de Fernando Pinto |
Mas não foi só este toque que se desvaneceu no ar. Também os alegres repiques anunciando os casórios cheios de festa e cor e os baptizados dos pequenos rebentos que se entregavam, então, a Cristo.
Muitos lembrarão ainda as seis badaladas do sino grande, que mesmo durante a noite lembravam a agonia de algum irmão, num apelo a outros tantos Pai-Nossos.
Recordamos com saudade o som forte e pesado do sino dos Passos, que espalhava até 5 km o seu ribombar lânguido e lento, anunciando a morte de um irmão cristão. Hoje, se tocasse, ouvir-se-ia só dentro da vila, rouco e áspero. Está rachado. Será preciso uma quantidade enorme de escudos para a sua reparação, e a Irmandade não terá esse dinheiro todo. Todavia, se todos dessem um pouco, uma migalha apenas, decerto que daqui a algum tempo teríamos de novo o seu som forte e profundo a estalar pesadamente no ar.
Mas continuemos a falar dos sinos. Alguns dos seus toques desapareceram com o tempo. Lembravam a festa das Filhas de Maria, a saída do Santíssimo Sacramento para os enfermos – que belo e inesquecível repique! –, o toque das calhandras a anunciar, num tom triste mas ameno, a Adoração das 40 Horas e a Quinta-Feira, e o toque a erguer a Deus na Missa conventual de Domingo.
São recordações que ficam para todos aqueles cristãos que se deslocam à Igreja chamados por estes sinos e que hoje, com pesar, não ouvem os velhos repiques. Ao recordá-los, fazemos um apelo: – porque não havemos de salvar o sino do Senhor dos Passos, contribuindo, para isso, com a nossa ajuda monetária?
Se quisermos, ele continuará a tocar. E tocará sempre, se não o deixarmos de novo morrer.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Sinos da Matriz de Ovar
No Almanaque de Ovar de 1914 e nas “Poalhas da História da freguesia e Igreja de Ovar” dão-nos os Padres Manuel Lírio e José Ribeiro de Araújo algumas notícias sobre os sinos da Igreja Matriz.
- Sino do lado norte
J. H. S. MARIA JOSE. ANNO DE 1772. FUGITE PARTES ADVERSAE ☩ ECCE CRUCEM DOMINI. (3)
É altura de explicar a regra de sinos para os momentos fúnebres: para mulheres, duas carreiras de sinos, intercaladas de 5 minutos; para homens, três carreiras; para sacerdotes cinco; nove para um Bispo; e doze para um Papa.
As crianças tinham três repiques se eram do sexo masculino, e dois se eram do feminino, também com intervalos de 5 minutos.Muitos lembrarão ainda as seis badaladas do sino grande, que mesmo durante a noite lembravam a agonia de algum irmão, num apelo a outros tantos Pai-Nossos.
Recordamos com saudade o som forte e pesado do sino dos Passos, que espalhava até 5 km o seu ribombar lânguido e lento, anunciando a morte de um irmão cristão. Hoje, se tocasse, ouvir-se-ia só dentro da vila, rouco e áspero. Está rachado. Será preciso uma quantidade enorme de escudos para a sua reparação, e a Irmandade não terá esse dinheiro todo. Todavia, se todos dessem um pouco, uma migalha apenas, decerto que daqui a algum tempo teríamos de novo o seu som forte e profundo a estalar pesadamente no ar.
Mas continuemos a falar dos sinos. Alguns dos seus toques desapareceram com o tempo. Lembravam a festa das Filhas de Maria, a saída do Santíssimo Sacramento para os enfermos – que belo e inesquecível repique! –, o toque das calhandras a anunciar, num tom triste mas ameno, a Adoração das 40 Horas e a Quinta-Feira, e o toque a erguer a Deus na Missa conventual de Domingo.
São recordações que ficam para todos aqueles cristãos que se deslocam à Igreja chamados por estes sinos e que hoje, com pesar, não ouvem os velhos repiques. Ao recordá-los, fazemos um apelo: – porque não havemos de salvar o sino do Senhor dos Passos, contribuindo, para isso, com a nossa ajuda monetária?
Se quisermos, ele continuará a tocar. E tocará sempre, se não o deixarmos de novo morrer.
TEXTO: António Dias Fernandes
FOTOS: jornalista Fernando Pinto
FONTE: jornal de Ovar "João Semana" (edição de 15/03/1980)
Sinos da Matriz de Ovar
No Almanaque de Ovar de 1914 e nas “Poalhas da História da freguesia e Igreja de Ovar” dão-nos os Padres Manuel Lírio e José Ribeiro de Araújo algumas notícias sobre os sinos da Igreja Matriz.
TORRE NORTE (hoje sem sinos)
Tinha, em 1790, um sino com a seguinte legenda:
IESVS, MARIA JOSÉ. S. CHRISTOUÃO DE OUAR. 1790. ANDRÉ DE ARCOS ME FES.
Tinha, em 1790, um sino com a seguinte legenda:
IESVS, MARIA JOSÉ. S. CHRISTOUÃO DE OUAR. 1790. ANDRÉ DE ARCOS ME FES.
Dele escreve o Padre Ribeiro de Araújo, nas suas “Poalhas”: “Rachou não se sabe quando, e em 1919 a junta [de Paróquia] vendeu-o à Irmandade dos Passos, que o aplicou na refundição do seu sino grande e da garrida” (pequeno sino da torre nascente).
“Rachado pelas múltiplas e simultâneas marteladas que com chaves e outros instrumentos lhe vibraram as festeiras do Coração de Maria, por ocasião da festa, no anno de 1911, foi, posteriormente, restaurado”.
TORRE SUL
- Sino da freguesia (do relógio), do lado poente
JHS. MARIA JOSE. ANNO DE 1812. S. CHRISTOVOM ORA PRO NOBIS. LUIZ BERNARDO ARANHA ME FEZ. PORTO. (1)
- Sino dos Passos, do lado sul
J.H.S. MARIA JOSE. FEITO POR JOSE AMARO SENIOR EM CANTANHEDE EM 1865. ESTE SINO É DA IRMANDADE DO SENHOR DOS PASSOS DA VILLA D’OVAR.
Sino grande dos Passos (lado sul) - FOTO de Fernando Pinto |
“De novo partido em meados do século XX, foi reconstruído, mas voltou a rachar pouco depois, estando inactivo desde há mais de 35 anos.
Sino Garrida - FOTO de Fernando Pinto |
- Sino Garrida
☩ IN HOC SIGNO VINCES. 1854. A IRMANDADE DO SENHOR DOS PASSOS ME MANDOU FAZER… DE CANTANHEDE. FRANCISCO LOPES ME FEZ DE CATANHEDE.(2)“Rachado pelas múltiplas e simultâneas marteladas que com chaves e outros instrumentos lhe vibraram as festeiras do Coração de Maria, por ocasião da festa, no anno de 1911, foi, posteriormente, restaurado”.
- Sino do lado norte
J. H. S. MARIA JOSE. ANNO DE 1772. FUGITE PARTES ADVERSAE ☩ ECCE CRUCEM DOMINI. (3)
NOTAS:
(1) Tradução: JESUS MARIA JOSÉ. ANO DE 1812. S. CRISTÓVÃO ROGAI POR NÓS...
(2) Tradução: ☩ COM ESTE SINAL VENCERÁS (...) No original do "Almanaque" aparecem as duas grafias "CANTANHEDE e CATANHEDE".
(3) Tradução: (...) FUGI, FORÇAS INIMIGAS ☩ ESTA É A CRUZ DO SENHOR
(2) Tradução: ☩ COM ESTE SINAL VENCERÁS (...) No original do "Almanaque" aparecem as duas grafias "CANTANHEDE e CATANHEDE".
(3) Tradução: (...) FUGI, FORÇAS INIMIGAS ☩ ESTA É A CRUZ DO SENHOR
Leia AQUI o artigo "Antigo toque de sinos em Ovar", publicado no jornal "João Semana" de 1 de Junho de 2011.